7 de janeiro de 2013

27. HISTÓRIA COMPLICADA



-Vem comigo... Quer saber como me alimento? – me olhou travesso, eu concordei.
Ele me levou a cozinha, que era toda de metal e tinha uma bancada de um material preto resistente, ele abriu um compartimento, parecendo uma gaveta embutida á parede, que tinha cinco bolsas de sangue em balanças que a faziam ir de um lado para o outro, mantendo-as em movimento (provavelmente para não coagular), do tipo A até AB. Ele pegou uma de tipo O negativo.
Eu sentei em uma cadeira e observei.
-Você já pensou em beber no copo? – eu brinquei, ele riu.
-Sinceramente, já, mas me senti um completo idiota. – eu ri, ele puxou o lacre a vácuo, que fechava um tubinho da bolsa e bebeu.
-Assim? Tão normal... – eu olhei surpresa – Você é realmente civilizado. – eu ri abismada. Ele riu.
-Eu já me alimentei de animais... Mas não como você. – ele sorriu
-Como assim?
-Eu tenho contatos e eles me dão carne fresca de animais quando peço.
-Você não é tão diferente de mim, você deveria caçar uma vez comigo. Há quanto tempo você não caça?
-Há uns seis meses, mas posso te dizer que não foi animais que cacei. – ele ficou meio chateado – Por me alimentar assim, meus instintos ficam uma hora muito... instáveis e acabo perdendo o controle. Não sou de ferro... Só pareço. – ele brincou
-Hum... Posso imaginar. – não queria pergunta como aconteceu seu deslize, mas tive curiosidade.
-Quer experimentar? – ele me ofereceu a bolsa na metade, eu fiz uma careta, mas aceitei e suguei um pouco.
Tinha o mesmo gosto de sangue humano que lembrava, mas não estava fresco. Era saciável, mas nada muito viciante, talvez seja pelo sangue pulsando, quente no corpo da vítima que nos faz ter aquela vontade incontrolável de querer mais.
Eu devolvi á ele.
-Nada comparado ao fresco, mas eu não fico com fome. – ele argumentou e terminou de tomar. - Elas têm um prazo, sabia?
-Prazo? – eu olhei confusa
-Eu não armazeno na geladeira, apenas nesse compartimento que as mantém em temperatura ambiente e não deixa coagula, então só podem durar 24 horas, no máximo dois dias.
-Vem direto do doador?
-Sim, em menos de duas horas, ninguém fica sabendo, tenho amigos em hospitais...
Depois de descrever o quanto era empolgante caçar, nós voltamos para sala, foi quando notei que tinha frutas e garrafas de vinho na mesa de centro.
-Pra que isso? –eu ri
-Decoração. – ele deu de ombros.
Ele parou para conversar com alguns vampiros, eu soube que a maioria que estava ali era da França mesmo, tinha um amigo dele, Lorenzo, que era de Portugal, Mina que era da Áustria, uns da Espanha e da Itália.
Depois de mais ou menos 2 horas na festa, percebi que Meredith ainda não tinha chegado...
-Onde está a Meredith? – eu perguntei ao Mike, ao meu lado.
-Hum... Não sei. – ele olhou para Joseph
-Ela disse que iria se atrasar, precisava ficar mais um tempo em Volterra... – Joseph respondeu, Anne olhou preocupada para nós, pela reação dela aquilo não era uma coisa normal de se acontecer.
-Entendo... – eu mordi o lábio, nervosa.
Será que teria alguma coisa haver com as coisas que estavam deixando minha família preocupada? Queria estar ao lado deles agora, para protegê-los e até mesmo ter mais informações.
No decorrer da noite trouxeram mais dois corpos, quero dizer, mais dois humanos. Era frustrante ver, saber, que aquelas pessoas iam morrer e eu não podia fazer nada, o Mike se desculpava mais ou menos umas 3 vezes a cada morte.
Eu, a Anne e o Mike estávamos na grande varanda do apartamento, observando a Lua e a maravilhosa cidade de Versalhes.
-Já volto. – o Mike entrou apressado.
Depois de um tempo em silêncio, a Anne sorriu.
-Você gosta dele? – ela não olhou pra mim.
Eu de imediato ia falar que não, mas eu gostava dele - como amigo, claro.
-Sim. Ele é super gentil e educado...
-Estou perguntando se você quer ficar com ele, não como apenas amigos? – ela se virou pra mim
-Eu tenho namorado, não posso! – contestei
-E... – ela me analisou e suspirou – Você ama o seu namorado, né! Mas e se você não estivesse namorando, ficaria com ele? – eu estranhei aquele grande interesse pelos meus relacionamentos, mas não falei nada.
Olhei pra sacada, pensando...
Se o Jake não estivesse na minha vida... Eu... Poderia me apaixonar pelo Mike, sim.
Lembrei das duas vezes que ele se pôs na minha frente me defendendo; ele me protegeria; hoje quando beijou delicadamente minha mão; ele me amaria; quando me deu o balão e o sorvete no parque; ele seria carinhoso; quando me fazia rir; ele me faria feliz...
Eu poderia me apaixonar por ele, mas...
Nada poderia substituir a Lua, ele poderia ser as estrelas ou uma das mais incandescentes estrelas que iluminariam a noite, mas não tanto quando a própria Lua.
-Sim... Mas é impossível, Jacob é parte de mim. – eu olhei pra ela convincente, ela torceu a boca.
-Hum... É que vocês me aparecem tão próximos. Olha, qualquer um acharia que vocês estão juntos, eu... só perguntei essas coisas, porque a Meredith apesar de ter se separado dele, ainda o ama e quando ela te ver pode achar que estão juntos e ser...
-Desagradável. – eu a interrompi. – O quanto eles foram próximos?
-Eles foram casados por mais de 100 anos. – eu arregalei os olhos.
-Tudo isso? Não acredito... Mas eles se separaram de repente? Ele me disse que não concordava mais com o jeito dos Volturi e... – eu lembrei que ela tinha o protegido quando ele poderia ser morto, ela morreria por ele, era obvio que ainda o amava. Anne suspirou.
-Apesar dele ser apaixonado por ela, nunca a perdoou pro tê-lo transformado. - sua voz ficou baixa, quase como um sussurro. -E conforme os anos foram passando, tudo foi se acumulando, até... – ela hesitou.
-Até o que?
-Ele saber que ela matou uma família inteira de humanos, os pais, avós e até as crianças. - sua voz apesar de doce parecia esconder um rancor muito grande, sua respiração irregular.
-Mas... Como ela pode?! – eu não poderia acreditar em tal brutalidade.
-Não a culpe... – ela me pediu.
-COMO NÃO? – eu aumentei meu tom de voz, abismada.
 -Se ela não fizesse isso, eles a matariam.
-Claro que não! – eu contestei sem absoluta certeza. – Ela é muito valiosa pra eles.
-Foi como uma punição. Os membros dos Volturi não podem criar vampiros por conta própria sem avisá-los, quando ela me criou ainda não era um deles, mas quando transformou o Mike, sim, e sem o consentimento deles. – sua respiração voltava ao normal. - Pelo Michael ter uma habilidade especial... Sabe do que estou falando?
-Sim, ele me mostrou. - ela concordou e continuou
-Eles não deram uma punição mais severa, são muito rígidos em relação as suas leis e regras. A punição dela era pôr a prova sua lealdade á eles, tendo coragem e sangue frio para matar uma família, não poderia haver nenhum sobrevivente... – seus olhos vermelhos pareciam tocar minha alma.
-E o Mike ficou sabendo disso depois de tanto tempo?
-Sim... Ele se culpou e colocou na cabeça. – ela balançou a cabeça, nervosa. – Que por ele viver, uma família foi sacrificada e nunca mais quis matar humanos, essa foi à causa da separação deles.
Eu fiquei quieta, em silêncio, ouvindo os sussurros e passos de dentro do apartamento.
Mas, de qualquer jeito, apesar dela ter sido obrigada a matar aquela família, se quisesse realmente mudar teria ido embora com o Mike, eles não a impediriam, eu sei, pois não mataram meu pai, nem minha tia Alice, com a esperança de que um dia eles se tornassem membros do clã...
Isso não teve desculpa, talvez ela nem tenha se arrependido pelo que fez, já que como o Mike disse; ela acha que humanos são inferiores e nunca teve receio de matá-los.
-Depois da separação ele ficou muito reservado, antes era tão alegre e animado. – ela sorriu, se lembrando. - Eu e o Joseph sempre o chamamos pra sair, mas ele sempre ficava aqui, raramente saia. Só o vi feliz assim de novo, hoje. – ela olhou pra mim. - Você faz bem a ele.
Eu olhei pra ela surpresa, pela sua sinceridade.
-Ele deve sentir muito a falta dela...
-Imagine você amar uma pessoa e não poder ficar com ela porque é contra seus princípios, sua natureza.
-Eu entendo perfeitamente.
Mas eu e o Jake superamos todas as nossas barreiras e vivemos intensamente nosso amor, talvez o amor deles não seja tão verdadeiro.
Depois de cinco minutos, o Mike voltou.
-Desculpe, tinha que saber uma coisa com o Joseph, sobre o que conversavam? – ele perguntou animado, era difícil imaginá-lo vazio e triste, a Anne encontrou meu olhar.
-Sobre uma história complicada... – ela respondeu, ele olhou pra mim franzindo o cenho, mas não perguntou nada.



“A estrada para o verdadeiro amor sempre tem obstáculos e devemos ultrapassá-los para tê-lo.”



Obs. A imagem faz referencia a relação do Mike e Meredith, quando eles eram casados.






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